Teologia Catolica :Lumen Gentium

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O Protestantismo e sua Genealogia 1ª(parte)

Martin Lutero

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O Protestantismo é uma forma de cristianismo que tem como principais características:

 

1 - A justificação pela fé sem as obras;

 

2 - A Bíblia como única fonte de fé, interpretada segundo o livre exame do crente;

 

3 - A negação de intermediários (a Igreja) entre Deus e o crente.

 

Vem de 1529 a origem do termo "protestante", durante a campanha da reforma luterana, quando a Dieta de Espira (conselho político do Sacro Império Romano Germânico formado para discutir assuntos religiosos) resolveu interromper o andamento das transformações religiosas até a realização de um concílio geral. Este fato provocou um protesto (escrito num documento chamado "Protestati") de seis príncipes e de catorze cidades alemães, que tinham aderido a reforma e desejavam a sua continuidade. Posteriormente, este adjetivo "protestante" passou a designar todos os cristãos reformados que se opõem a Roma. Na atualidade, os cristãos reformados tem se autodenominados "evangélicos" termo que os denominavam no princípio da reforma. A seguir examinaremos as três características básicas e comuns do Protestantismo:

 

1 - A justificação pela fé sem as obras:

 

 

* "Justificatio sola fide" - Justificação só pela fé não pelas obras. Sabemos também que a fé precisa de ser testemunhada por meio de obras. A Bíblia Sagrada diz: "Fé sem obras é morta em si mesma" (Tg 2, 17; 2, 16). Dia ainda: "De que aproveitará, irmãos, alguém falar que tem fé, se não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo?" (Tg 2, 14). Portanto, as duas coisas são necessárias: a Fé e as obras.

Para se entender este princípio é preciso ir a Lutero que foi o primeiro a formula-lo e defende-lo. Segundo Lutero, a concupiscência (desejo de bens, gozo por bens materiais e fornicação) seria impossível de ser dominada mediante a penitência e boas obras. Lutero antes de rebelar-se contra a Igreja foi frade agostiniano. Entrou para o sacerdócio mais por medo de se entregar a concupiscência do que por autêntica vocação, no entanto, mesmo após a reforma este temor manteve-se. Então, segundo ele, bastaria apenas aceitar Jesus Cristo como Salvador, isto é, crer com confiança que Deus Pai, em vista dos méritos de Jesus, não levaria em conta os pecados do indivíduo. A fé confiante (independente de boas obras) faz com que Deus nos cubra com o manto dos méritos de Cristo, declarando-nos justos, a fim de nos conceber a Salvação e a Vida Eterna.

Esta concepção não atinge o interior da natureza humana, que continua pecadora, mas apenas a justifica pela fé. Daí a afirmação de Lutero "peco intensamente, mais ainda mais intensamente creio."

O que dizer o Católico sobre isso? Na Sagrada Escritura (Rm 5,8s; Gl 3,12.22) Deus nos ensina que a remissão dos pecados é gratuitamente concedida aos homens mediante os méritos de Cristo. Contudo, a Bíblia também ensina que o perdão concedido por Deus não é apenas justificado pela fé, é, sobretudo, regeneração (Jo 3, 3.5; Tt 3,5) e a conseguinte elevação à qualidade de filhos de Deus. Nesta medida, o crente se transforma não de nome apenas (aceitação de Cristo como Salvador), mas na realidade (1Jo 3,1), de modo a nos tornarmos companheiros da natureza divina (2Pd 1,4), isto é, capazes de produzir atos que imitem a santidade do Pai celeste (Mt 5,48). Enfim se Deus nos concede uma nova natureza ao perdoar as nossas faltas, logo as boas obras também fazem parte da vida cristã e são fundamentais para se obter de Deus a graça da Vida Eterna (Tg 2,14-26).

 

 

2 - A Bíblia como única fonte de fé, interpretada segundo o livre exame do crente;

 

 

* "Sola Scriputa" - Apenas a Escritura é fonte da fé, interpretada individualmente, o chamado livre exame, com isso, ele deixou a porta aberta para que a própria doutrina luterana se ramificasse e muitas igrejas divergissem entre si. Para nós Católicos a Bíblia é a Palavra de Deus que nos chama a fé, mas o Senhor nos fala também pela Igreja. A Palavra escrita e a palavra falada se completam. O Evangelho, antes de ser escrito, foi anunciado de viva voz pela Igreja, pois foi à Igreja que Jesus confiou a missão divina de fazer a sua salvação chegar a todos os povos, até o fim do mundo (cf. Mt 28, 16-20)

Os Reformadores, a fim de dar base a justificação pela fé e não pelas obras, sentiram a necessidade de revisionar os conceitos de fonte da Revelação cristã. Esta é a Palavra de Deus e ela é composta pela Sagrada Escritura e pela Tradição oral (apregoada pelo ministério da Igreja). Esta revisão definiu a rejeição da Tradição oral e do magistério da Igreja em nome da afirmativa: toda a Palavra de Deus está contida na Bíblia.

Os protestantes afirmam também que o indivíduo é livre para interpretar a Bíblia. O crente lê e a entende tendo a ajuda do Espírito Santo, que dá o seu testemunho interior, iluminando e dirigindo o seu coração. Esta postura subjetivista (individualista) faz com que seja negado a Igreja visível e hierárquica a função dada por Cristo de guardiã de seus ensinamentos e de sua transmissão.

O valor da Tradição oral se explica pelo fato de que a Revelação oral antecedeu a redação das Escrituras e não foi, explicitamente, toda registrada nos livros sagrados (Jo 20, 30s; Jo21,25; Hb 2,3; 2Ts 2,15). Portanto, se vê o quanto é arbitrário e insuficiente interpretar a Bíblia independente da corrente de doutrina da qual a Escritura se originou, conservou-se e sempre se transmitiu.

Porém apesar da negação das diversas correntes protestantes a Tradição transmitida desde o início do Cristianismo, do qual originou a Bíblia, não abandonaram, todavia, o sentido de tradição, pois cada corrente reformadora segue a linha estabelecida por seu fundador (Luteranismo, Lutero; Calvinismo, Calvino; Metodismo,Wesley; os Batistas, Smyth;etc), o que nega na prática a livre interpretação bíblica pelo indivíduo 

 

 

3 - A negação de intermediários (a Igreja) entre Deus e o crente.

 

 

* "Sola gratia" - Não aceita a mediação da Igreja Hierárquica entre Deus e os Homens. Para nós, católicos, a salvação vem realmente de Deus, mas o ser humano não fica passivo, com pedra que é colhida pela pá carregadeira. A salvação é como uma corda que desce do alto, à qual o homem se agarra, ajudado pela graça de Deus. Deus que a colaboração do homem e da sua Igreja.

Como vimos o Protestantismo dá um valor decisivo a atitude do indivíduo diante de Deus; é a fé do crente (subjetiva) que lhe garante a salvação. Os canais transmissores da graça divina, os sacramentos, administrados por uma sociedade visível e hierarquicamente constituída (a Igreja) são portanto negados como fonte de salvação. Para o protestante, entre o homem pecador justificado pela fé em Deus, não há nenhum sacerdote senão o Senhor Jesus invisível que está nos Céus (cf 1Tm 3,15). Então nada além do Espírito Santo, que fala no intímo do crente, pode ser Mestre e guia da fé, não havendo a necessidade de recorrer a nenhum magistério visível e objetivo.

Existe apenas no Protestantismo, uma igreja invisível que vai tomando corpo a partir do século XVI, sem distinção entre os fiéis e uma hierarquia organizada. Fica a pergunta sempre muito difícil de ser respondida: Como é governada a igreja invisível? Sobre esta desdobra-se outra: Sem critérios muitos seguros para se estabelecer o governo da Igreja é possível manter a fé cristã unida como prega as Sagradas Escrituras? Não é difícil responder a esta última pergunta basta olharmos as milhares de ramificações existentes dentro do protestantismo na atualidade, que já no tempo de Lutero o fez dizer "Há tantos credos quantas cabeças há."

 

 

As Ramificações Protestantes

 

 

O Protestantismo não é um movimento religioso homogêneo, tendo muitas diferenças internas entre as suas igrejas e muitas das vezes estas são tão diversas entre si que se afastam em demasia da mensagem da igreja cristã primitiva. As diversas ramificações protestantes tem como causa o princípio da livre interpretação bíblica pelo indivíduo que traz consigo o germe da fragmentação e da radicalidade. Muitos movimentos reformadores movidos por sentimentos radicais destruíram igrejas e imagens bem como torturaram e mataram vários opositores; qualquer um que se opusesse as diretrizes de um dos movimentos era considerado inimigo daquela igreja. Temos como exemplo, o governo teocrático (Governar em nome de Deus) da Nova Sião estabelecido pelos reformadores anabistas que dirigiram uma forte perseguição aos adversários das suas convicções religiosas. Vê se na prática o quanto é falho a noção de livre interpretação bíblica pelo indivíduo, pois cada movimento reformador ao ganhar preponderância política sobre os demais fazia com que as suas convicções fossem sobrepostas as dos outros (é o caso dos congregacionistas ao se tornarem religião oficial do estado de Massachusetz nos Estados Unidos).

A fragmentação é um outro aspecto observado no Protestantismo. Bastava um grupo, ou até um indivíduo, segundo a sua interpretação das Sagradas Escrituras, discordar e julgar imprópria determinada prática feita pelos membros daquela comunidade religiosa, já era um forte motivo para se fundar uma nova agremiação (Refletir 2Pd 3, 15-16). Daí a dificuldade em mapear as suas ramificações e as origens de cada uma delas. Todavia é sabido que as igrejas reformadas tem como base três origens: a reforma luterana, na Alemanha; a calvinista, na Suiça; e a anglicana, na Inglaterra.

A história do protestantismo nos lembra a triste sorte que geralmente toca aos cristãos que cedem ao individualismo e ao subjetivismo em matéria religiosa: vão se afastando cada vez mais das fontes do cristianismo, a ponto de, por vezes, só guardarem o nome de cristãos. É, entre outros, o caso das Testemunhas de Jeová.

Foi precisamente para evitar cisões e rupturas devido ao individualismo, às vezes fantasioso e errôneo, que o Senhor Jesus quis instituir o primado de Pedro e de seus sucessores. A Pedro disse Jesus: "Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, orei por ti a fim de que tua fé não desfaleça... Confirma teus irmãos" (Lc 22, 31s). É o ministério de Pedro, assistido pelo Senhor Jesus e o Espírito Santo, que garante a unidade da doutrina e da moral da Igreja, conservando-as fiéis ao Evangelho original.

Por isso São Cipriano (+ 258), diante das ameaças de cisma no século III, ensinava: "Não pode possuir a vesta inconsútil de Cristo aquele que divide e dilacera a Igreja",: ou ainda, "Não pode ter Deus por Pai no céu quem não tem a Igreja por Mãe na terra". Posteriormente, dizia muito sabiamente Santo Agostinho: "Na cátedra da unidade colocou Deus a doutrina da verdade". Cientes disso, nós fiéis cristãos católicos devemos reconhecer o valor de estarmos na barca de Pedro, onde Jesus navega com os seus.

Veremos à seguir algumas igrejas protestantes e suas origens, bem como alguns aspectos doutrinais.

 

 

 

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